A paisagem de energia em folding de proteínas

Paisagem de energia num modelo de rede

A dependência da energia na conformação, E = E (Г), gera aquilo a que se costuma chamar paisagem de energia. Conformações de baixa energia, ou mínimos locais, encontram-se separadas umas das outras por barreiras de energia. A topografia desta paisagem de energia será tanto mais acidentada quanto maior for a frustração exibida pela proteína.

Para compreendermos um bocadinho melhor este novo conceito temos que saber como definir uma conformação Г já que E = E (Г).

Tomemos uma conformação Г com N=4 aminoácidos como a que se mostra na figura seguinte. Como é que se constrói esta conformação? Uma vez fixada a posição do aminoácido 1, o aminoácido 2 pode, a priori, ocupar qualquer uma das posições a sombreado representadas em (b). Fixemos as suas coordenadas por forma a que a sua posição passe a ficar definida pelo vector r0. Nestas condições, o aminoácido 3 só poderá ocupar uma das três posições a sombreado, como se mostra em (c), já que não poderá ocupar o lugar do aminoácido 1. Voltemos a fixar as suas coordenadas, desta feita pelo vector r1 de forma a que fique na posição que ocupa em (a). Façamos o mesmo ao aminoácido 4 com o vector r2,como se mostra em (d).

Os vectores r1 e r2 são os graus de liberdade necessários para descrever completamente a conformação Г de quatro aminoácidos.
Os vectores r1 e r2 são os graus de liberdade necessários para descrever completamente a conformação Г de quatro aminoácidos. Porquê? (ver texto)

Os vectores r1 e r2 descrevem completamente a conformação da figura acima. Porque é que o vector r0 "não conta"? Porque se rodássemos r0 de modo a que passasse a assumir um dos outros três valores possíveis, e modificássemos r1 e r2 através da mesma rotação, obteríamos uma conformação idêntica, só que toda ela rodada rigidamente em relação à orientação convencionada em (a). Como não nos interessa distinguir entre rotações rígidas da mesma conformação, o vector r0 pode ser fixado para todas as conformações num valor arbitrário. Portanto, Г=Г(r1, r2) neste exemplo, o que mostra que para N=4, na rede quadrada, o número de graus de liberdade de uma conformação, isto é, o número de coordenadas que a define, é dois.

O resultado obtido para o caso N=4 pode ser generalizado: na rede quadrada uma conformação com N aminoácidos fica completamente descrita por (N-2) graus de liberdade.

Como os vectores r1 e r2 podem tomar três orientações diferentes cada um o número total de conformações possíveis da proteína de quatro aminoácidos é 9 (3x3), a cada uma das quais corresponde uma certa energia. Se quiséssemos representar E(Г) no papel, poderíamos obter algo como o que se mostra na figura abaixo.

Representação hipotética da paisagem de energia de uma pequena proteína com quatro aminoácidos.
Representação hipotética da paisagem de energia de uma pequena proteína com quatro aminoácidos.

Este é um exemplo muito simples mas que ilustra perfeitamente o conceito de paisagem de energia, a energia em função da conformação. É claro que a paisagem de energia das proteínas reais é muito, muito mais complicada...Para percebermos porquê comecemos por investigar o que acontece a E(Г) quando N, o número de aminoácidos, aumenta. Para N=5, uma conformação Г passa a ficar definida por três graus de liberdade r1, r2 e r3 - já aprendemos que o número de graus de liberdade é sempre (N-2). Assim, neste caso E(Г)=E(r1, r2, r3) pelo que, para N=5 já não conseguimos sequer representar E(Г) no papel! Por outro lado existem três orientações possíveis por grau de liberdade, pelo que neste caso o número total de conformações é 27. O leitor poderá facilmente verificar que para N=10, temos E(Г)=E(r1, r2,r3, r4, r5, r6, r7, r8) e 38 = 6651 conformações possíveis e que, para uma pequena proteína com N=100 aminoácidos temos 398 6×1046 conformações possíveis e E(Г)=E(r1,r2,r3 ... , r98).

Moral da história: numa rede quadrada o número de conformações aumenta com N de acordo com a lei de potência 3(N-2) e bastam apenas cinco aminoácidos para que não seja possível representar graficamente a paisagem de energia correspondente. Será que com base no que aprendemos conseguimos imaginar como será a paisagem de energia de proteínas reais?